AMARGO 
(Jayme Caetano Braun)
Velha infusão gauchesca 
De topete levantado 
O porongo requeimado 
Que te serve de vazilha 
Tem o feitio da coxilha 
Por onde o guasca domina, 
E esse gosto de resina 
Que não é amargo nem doce 
É o beijo que desgarrou-se 
Dos lábios de alguma china! 
A velha bomba prateada 
Que atrás do cerro desponta 
Como uma lança de ponta 
Encravada no repecho 
Assim jogada ao desleixo 
Até parece que espera 
O retorno de algum cuera 
Esparramado do bando 
Que decerto anda peleando 
Nalgum rincão de tapera!
Velho mate-chimarrão 
As vezes quando te chupo 
Eu sinto que me engarupo 
Bem sobre a anca da história, 
E repassando a memória 
Vejo tropilhas de um pêlo 
Selvagens em atropelo 
Entreverados na orgia 
Dos passes de bruxaria 
Quando o feiticeiro inculto 
Rezava o primeiro culto 
Da pampeana liturgia!
Nessa lagoa parada 
Cheia de paus e de espuma 
Vão cruzando uma, por uma, 
Antepassadas visões 
Fandangos e marcações 
Entreveros e bochinchos 
Clarinadas e relinchos 
Por descampados e grotas, 
E quando tu te alvorotas 
No teu ronco anunciador 
Escuto ao longe o rumor 
De uma cordeona floreando 
E o vento norte assobiando 
Nos flecos do tirador!
Sangue verde do meu pago 
Quando o teu gosto me invade 
Eu sinto necessidade 
De ver céu e campo aberto 
É algum mistério por certo 
Que arrebentando maneias 
Te faz corcovear nas veias 
Como se o sangue encarnado 
Verde tivesse voltado 
Do curador das peleias!
Gaudéria essência charrua 
Do Rio Grande primitivo 
Chupo mais um, pra o estrivo 
E campo a fora me largo, 
Levando o teu gosto amargo 
Gravado em todo o meu ser, 
E um dia quando morrer, 
Deus me conceda esta graça 
De expirar entre a fumaça 
Do meu chimarrão querido 
Porque então irei ungido 
Com água benta da raça!!!
sexta-feira, 20 de maio de 2011
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