sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal

NATAL GALPONEIRO
(Jayme Caetano Braun)

A cuia do chimarrão,
É o cálice do ritual,
E o galpão é a Catedral
Maior da terra pampeana,
Que de luzes se engalana,
Para esperar o NATAL.

A cuia aquece na palma
Da mão da indiada campeira,
Dentro da sua maneira,
Rezando e chairando a alma,
Para recuperar a calma,
Que fugiu do mundo inteiro.
Enquanto o estrelão viajeiro,
Já vem rasgando caminho,
para anunciar o "Piazinho",
A Virgem e o Carpinteiro.

Em nome do Pai,
- Do Filho e do Espírito Santo,
É o chimarrão que levanto,
E o vento faz estribilho,
A prece do andarilho,
Ao Piazito Salvador,
Filho de Nosso Senhor,
Do Espírito e do Pai,
De volta a terra aonde vai,
Falar de novo em amor!

Tem sido assim - dois mil anos,
Ninguém sabe - mais ou menos,
Vem conviver com os pequenos,
De todos os meridianos,
E repetir aos humanos,
As preces de bem querer.
Quem sabe até - pode ser,
Que um dia seja atendido,
E o mundo velho perdido,
Encontre paz para viver.

Ele sabe da apertura,
Em que vive o pobrerio,
A fome - a miséria - o frio,
Porque passa a criatura,
Mas que - inda restam - ternura,
Amizade e esperança,
É que pode, a cada andança,
Mesmo nos ranchos sem pão,
Aliviar o coração,
Num sorriso de criança!

Pra mim - que ouvi na missões,
Causos de campo e rodeio,
Do "Negro do Pastoreio",
Cruzando pelos rincões,
Das lendas de assombrações,
E cobras queimando luz.
Foste - Menino Jesus,
O meu sinuelo de fé,
Juntando ao índio Sepé,
O Nazareno da Cruz!

E a Santa Virgem Maria,
Madrinha dos que não tem,
Fez parte - sempre - também,
Da minha filosofia,
Eu que fiz de Sacristia,
Os ranchos de chão batido,
E que hoje - encanecido,
Sou sempre o mesmo guri,
A bendizer por aí,
O pago que fui parido!

E o Nazareno que vem,
Das bandas de Nazaré,
Chasque divino da fé,
Rastreando a luz de Belém,
Ele que vai morrer também,
Pra cumprir as profecias.
É Natal - nasce o MESSIAS,
Salve o Menino Jesus!
Mas o que fogem da luz,
O matam todos os dias.

Presentes - "Papais Noéis",
Um ano esperando um dia,
Quando a grande maioria,
Sofre destinos cruéis.
O amor pesado a "mil-réis",
E mortos vivos que andam,
Instituições que desandam,
Porque esqueceram JESUS,
O que precisa, é mais luz,
No coração dos que mandam!

Que os anjos digam amém,
Para completar a prece,
Do gaúcho que conhece,
As manhas que o tigre tem.
Não jogo nenhum vintém,
Mesmo sendo carpeteiro,
Mas rezo um Te-Déum campeiro,
Nessa Catedral selvagem,
Pra que faça Boa Viagem,
O enteado do Carpinteiro!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Romance de Peão (O Tobiano Capincho)


ROMANCE DE PEÃO (O TOBIANO CAPINCHO)
(Aureliano de Figueiredo Pinto)

Este tobiano da Estância
foi o bicho mais maleva
que o diabo inventou pra um peão!
Zolhos de chancho, cabano,
sargo, coiceiro, aragano,
manoteador e bufão.

Peão que chegasse atrasado
na segunda, mui sovado
da farra pelo rincão
já se sabia - a sua pena
era encilhar o ventena
que ansim mandava o Patrão.

Uma feita ... era segunda ...
na estância .... ao clarear do dia ...
com cara de laço novo ... cheguei ...
já estava meu povo na mangueira ...
E alguém gritou quando já davam cavalo:
- Lace o tobiano capincho
pra esse que vem dos bochincho
do rincão do Cantagalo!

Que sina! ... se eu tinha o peito
mais puro que a Estrela D'alva
que bico de beija-flor!
Qual bochincho ... se eu voltava
de ver a prenda que amava
todo enredado de amor.

Virge do céu ... será o diabo ...
Um cristão que andou bailando
por duas noite e treis dia
com no ouvido as harmonia
da cordeona retrechando
e o coração sarandeando
numa vanera macia ...

Nos olhos tontos de sono,
como em espelho pequeno
aquele corpo moreno
com crespos que o vento bate!
E o auroma à flor e a sereno
que vem na prosa em cochicho ...
- Que auroma! ... Não vi em bolicho ...
nem nos baús dos mascate.

E os negro olhos ariscos
como iaras bombeaderas
nas poças que a seca embarra
na sombra de um caponé ...
E que maneia ginete
como pealo de cucharra!

Quanta coisa ela me disse
não dizendo quaje nada!
Quanta coisa ela entendeu
da minha boca cerrada
- porteira do coração!
... E agora, eu moço monarca,
chego batendo na marca
no meu ofício de peão ...

Bonito! Agora acordar
de um sonho que é um lindo engano!
Soltar o corpo franzino
em que envidei meu destino
pra me trompar com o malino
que é este capincho tobiano!

Chego ... E, "Bom dia Senhores!"
largo já meio coverda...
E me respondem - "Boa tarde!
Dormiu nas palhas paissano!
Largue esse! Traga o buçal!
A la putcha que é desigual
a sorte de um campechano!

Vinha o tobiano no laço
como dourado na linha!
Ligeiro como tainha
como traíra de açude!
Dando mais pulos e saltos
que um calcuta na rinha!
Haaa! ... quando a sorte é mesquinha
não hai feitiço que ajude!

Pra encilhá o venta rasgada
foi abaixo de oração ...
E já maneado e enfrenado
foi luita pra arregla os troço!
Rezei quatro Padre-nosso
só pra sentar o xergão ...

Cheguei a carona e os basto.
E quanto a cincha tinia
o infame se foi pra o céu.
Voltou ... Tombou de boléu.
Quaje perdendo o chapéu
rezei quatro Ave-Maria ...

E o urco como um bodoque!
Traiçoero ... Olhando pra tras,
com a cincha no osso do peito!
... e eu ... le ajeitando ... com jeito ...
por causa do capatais ...

Depois de bem encilhado
tranqueou com passo de tango
muito mal intencionado,
encolhido e retovado!
Eu vi minha vida pequena ...
Corri os olhos na chilena
e olhei pra tala do mango ...

Na voz de - "bamos moçada!"
campeei a volta e montei
já certito e firme nos basto!
Já o bicho se vinha urrando
ladeadito ... se brandeando
como cotiara de arrasto ...

Nós fumo naquela toada ...
nessa dança desgranida
em que um taura arrisca a vida
só pra honrar a patacoada!

Despois... de focinho gacho
garrou ladeira em descida
na fúria despavorida
de um touro num costa-abaixo!

Me encomendei pro Senhor!
Também pra Virgem Maria!
Nem sei como arresesti ansim
blandito de amor!
E sem amadrinhador
nesse lançante tremendo
me fui solito ... me vendo
mais triste que um payador! ...

Rodou ... E ficou roncando!
Quebrado! É o fim do Capincho!
E eu ... Paradito! ... E, com tino
a pensar desta maneira:
- Por Ti ... A mais linda Triguera!
Gineteio a vida intera
no lombo do meu Destino! ...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Deixando o pago

DEIXANDO O PAGO
(João da Cunha Vargas)

Alcei a perna no pingo
E saí sem rumo certo
Olhei o pampa deserto
E o céu fincado no chão
Troquei as rédeas de mão
Mudei o pala de braço
E vi a lua no espaço
Clareando todo o rincão

E a trotezito no mais
Fui aumentando a distância
Deixar o rancho da infância
Coberto pela neblina
Nunca pensei que minha sina
Fosse andar longe do pago
E trago na boca o amargo
Dum doce beijo de china

Sempre gostei da morena
É a minha cor predileta
Da carreira em cancha reta
Dum truco numa carona
Dum churrasco de mamona
Na sombra do arvoredo
Onde se oculta o segredo
Num teclado de cordeona

Cruzo a última cancela
Do campo pro corredor
E sinto um perfume de flor
Que brotou na primavera.
À noite, linda que era,
Banhada pelo luar
Tive ganas de chorar
Ao ver meu rancho tapera

Como é linda a liberdade
Sobre o lombo do cavalo
E ouvir o canto do galo
Anunciando a madrugada
Dormir na beira da estrada
Num sono largo e sereno
E ver que o mundo é pequeno
E que a vida não vale nada

O pingo tranqueava largo
Na direção de um bolicho
Onde se ouvia o cochicho
De uma cordeona acordada
Era linda a madrugada
A estrela d'alva saía
No rastro das três marias
Na volta grande da estrada

Era um baile, um casamento
Quem sabe algum batizado
Eu não era convidado
Mas tava ali de cruzada
Bolicho em beira de estrada
Sempre tem um índio vago
Cachaça pra tomar um trago
Carpeta pra uma carteada

Falam muito no destino
Até nem sei se acredito
Eu fui criado solito
Mas sempre bem prevenido
Índio do queixo torcido
Que se amansou na experiência
Eu vou voltar pra querência
Lugar onde fui parido

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Amargo

AMARGO
(Jayme Caetano Braun)

Velha infusão gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vazilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina,
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma china!

A velha bomba prateada
Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincão de tapera!

Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história,
E repassando a memória
Vejo tropilhas de um pêlo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!

Nessa lagoa parada
Cheia de paus e de espuma
Vão cruzando uma, por uma,
Antepassadas visões
Fandangos e marcações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!

Sangue verde do meu pago
Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!

Gaudéria essência charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer,
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça!!!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Falta de respeito com a Bandeira do Brasil

Ex soldados da aeronáutica rasgaram a Bandeira do Brasil em Brasília porque querem ser reintegrados à corporação.
Esses cidadãos fizeram o juramento abaixo e parece que esqueceram. Não dá pra acreditar numa coisa dessas. Onde estamos? Para que rumo a nossa pátria está indo?

INCORPORANDO-ME À FORÇA AÉREA BRASILEIRA
PROMETO CUMPRIR RIGOROSAMENTE
AS ORDENS DAS AUTORIDADES A QUE ESTIVER SUBORDINADO.
RESPEITAR OS SUPERIORES HIERÁRQUICOS,
TRATAR COM AFEIÇÃO OS IRMÃOS DE ARMAS
E COM BONDADE OS SUBORDINADOS.
E DEDICAR-ME INTEIRAMENTE AO SERVIÇO DA PÁTRIA,
CUJA HONRA,
INTEGRIDADE
E INSTITUIÇÕES,
DEFENDEREI COM O SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA.
 
A Bandeira é uma instituição do Brasil.
Desce a borracha neles P.A (Polícia da Aeronáutica)!!
 
http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2011/04/ex-soldados-da-aeronautica-escalam-mastro-da-bandeira-em-brasilia.html

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Acidente na prática do montanhismo

Desde a Travessia da Serra Fina que eu não me machucava na montanha. Naquela oportunidade, no quarto e último dia, quando já havíamos passado o Alto dos Ivos e já iniciávamos a descida para o sítio do Pierre, onde seria nosso resgate e eu vinha totalmente cansado, estafado pelos quatro dias de dura caminhada sempre acima dos 2.000 m de altitude da difícil Serra Fina e torci o pé repentinamente.
Caí de frente em meio a uma mata de bambu e desci arrastado no meio desses finos bambus por cerca de 3 metros. Quando comecei a entender o que havia acontecido foi no momento em que o Cassiano e o Adão, colegas desta travessia, me puxavam pela alça da mochila e me traziam novamente para a estreita trilha e então pude reparar o estrago ocorrido pelo inchaço do meu tornozelo esquerdo. Dali ainda caminhamos mais umas 4 horas, já sem água, até chegar no local de resgate.
Penso que isso aconteceu naquela oportunidade por falta de concentração! E essa mesma falta de concentração em momentos importantes me causou novo acidente nesse 17 de abril de 2011.
Subi a trilha do Cristo, trajeto normal em meus treinos, empolgado. Saí da parte de trilha na floresta em 15 minutos de caminhada e iniciei a parte de trilha aberta e escalaminhada com uma boa resistência e sem cansaço. Passei por toda a parte difícil sem dificuldade nenhuma (já perdi as contas de quantas vezes subi e desci essa trilha).
Quando estava a uns 15 metros do final da trilha e conferi o relógio vi que estava fazendo o meu melhor tempo de subida. O relógio marcava 35 minutos de subida. Até então meu melhor tempo havia sido 40 minutos. Nesse momento, me desconcentrei e escorreguei no chão liso e fui de frente ao chão. Senti a seca pancada no joelho esquerdo e uma mais seca ainda na canela direita. Eu havia batido a canela com muita força em na quina de uma pedra. Rapidamente levantei e segui a trilha até o seu final com muita dor na perna. Cheguei no final com 37 minutos. Meu melhor tempo!
Sentei no banco ao lado da estátua do Cristo e olhei para a perna e estava formado um calombo e um corte no meio dele. Imediatamente joguei água do camelback, fria, para tentar aliviar a dor. Tirei as dezenas de 'pega-pegas' que haviam se instalado em minha roupa no momento da queda enquanto descansava um pouco. Dali, fui até a casinha que vende milho verde, no alto do morro, e pedi se eles tinham um gelo para que colocasse em minha perna.
Além da raspa de gelo de congelador eles me deram um algodão e álcool com arnica para tentar amenizar a dor eo inchaço daquele local da minha perna.
Após descansar mais um pouco, empapei um pedaço de algodão e o coloquei em cima do machucado e coloquei também uma bandagem tipo curativo por cima.
Desci o morro caminhando, pelo alfalto dessa vez, até a entrada da Fonte dos Amores onde pude pegar o carro e ir para casa.

Moral da História: não perca a concentração nunca. Nos momentos de bobeira os acidentes acontecem. E acontecem tão rápido que quando vemos ele já aconteceu.

Via Era do Gelo - 4 V E2 150m

Essa via de escalada clássica, em Andradas, sul de MInas Gerais tive a oportunidade de escalar no sábado, 16 de abril de 2011. Via de três enfiadas de 50 metros mas com paradas a cada 25 metros.
A equipe: eu, Silas e Renata Ravanelli. Saímos cedinho de Poços de Caldas, por volta das 07:00hs e seguimos para Andradas. Mais especificamente para a localidade do Pantâno.
Chegamos no Abrigo de Montanha do Velho às 8 e pouco e após tomarmos um café, nos deslocamos para as imediações da Pedra do Elefante.
Fizemos o trekking até a base da Pedra do Elefante e seguimos para o início da via Era do Gelo. Dali, a escalada aconteceu. Tive a oportunidade de mandar parte da guiada e fomos intercalando essa atividade entre os membros da equipe que ali estava.
Após completarmos a via, o rapel de 120 metros aconteceu na via Tequenfim com uma parada de dois pinos na parede vertical na metade da altura do rapel.
Eu já fiz vários tipos diferentes de rapel. Cachoeira, pontes, paredões. Mas essa foi minha primeira parada na vertical para puxada da corda e novo rapel. Adrenante! E além disso muito desconfortável.
Dali, vimos no 'corpo do elefante', o escalador Jacaré, proprietário do Abrigo de Montanha do Pantâno (http://www.abrigopantano.com/) e um colega abrindo uma nova via. No martelo!
Após chegarmos na base e o Silas tentar recuperar algumas costuras e mosquetões que haviam ficado no teto da via Tequenfim fizemos o trekking de volta ao carro e voltamos para Poços.
Um recompensante dia de escalada e técnicas de montanhismo: não tem preço!

Primeira enfiada

Silas e Renata

Chegando no cume

Parada do rapel

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Hermano

HERMANO   (Jayme Caetano Braun)


Seu nome - nunca se soube,
nem ele mesmo sabia.
Numa noite muito fria
deu ô de casa na estância.
Vinha de longa distância
dos fundos da noite grande,
mas nos galpões do Rio Grande
isso tem pouca importância.

Ninguém lhe perguntou nome
nem lugar de procedência
que vinha de outra querência
se via no sufragante,
um buenas noites vibrante
de campeira fidalguia
e a galponeira franquia:
- ... Apeie... e chegue pra diante!

O chapéu com barbicacho,
negra e comprida melena,
pele queimada, morena
sem luxos na vestimenta,
bombacha de brim - cinzenta,
adaga e faca à cintura
e um olhar misto ternura
com lampejos de tormenta.

Mi nombre es Hermano, hermanos
disse - enquanto chimarreava
à peonada que escutava
mui atenta - por sinal,
e no mesmo tom casual,
palmeando a cuia de mate,
afirmou como arremate:
- Soy de la banda Oriental!

Desde essa noite o Hermano
ficou na estância - ajudando,
que o índio que anda cruzando
não se ajusta como peão,
vai ficando no galpão
- a velha casa reiúna -
onde os párias sem fortuna
buscam calor de fogão.

Sempre alegre e prestativo,
naquele meio dialeto,
era um gaúcho completo,
de ação pronta e destorcida,
demonstrando em qualquer lida
que era desses campechanos
que já nasceram vaqueanos
dos mil atalhos da vida.

Depois que se enforquilhava
no seu basto castelhano
nem o bagual mais tirano
sacava o índio dali.
Aos gritos de ibi-bi-bi,
ia surrando cruzado
pulando mais que dourado
nas enchentes do Ibicuí!

Cantava uma flor de truco,
à velha moda gaúcha
e num jardeio - qüe pucha,
sempre saía primeiro,
corredor mui tarimbeiro,
desses com sete sentidos
que até parecem nascidos
nas cruzes do parelheiro.

Laçava... e como laçava,
de a pé como de a cavalo,
tanto fazia no pealo,
ser sobre-lombo ou cucharra;
companheiro numa farra
dos que não refugam nada
e que mão aveludada
pra pontear uma guitarra.

Quando cantava se via
naquele olhar machucado
o pensamento empacado
nalguma reminiscência,
talvez a velha querência
longe na barra pampeana...
talvez alguma paisana
desgarronada na ausência...

Numa milonga macia,
numa cifra - num estilo
nunca se viu como aquilo
tamanha fidelidade,
ora olfateando saudade
numa nostalgia langue;
ora farejando sangue
num berro de liberdade.

Quando os dedos se perdiam
entre a quarta e a bordona
pareciam vir à tona
barbarescas ressonâncias,
clarins furando distâncias
num último chamamento
e laços cortando ventos
no amanhecer das estâncias.

Depois amaciava o tranco
com patas aveludadas
e evocava madrugadas
com luas e meias-luas;
pôr-de-sóis nas pampas nuas
com romances proibidos
nos pelegos estendidos
para divãs das chiruas!

Sábado encilhava o baio
rumbeando aos ranchos da estrada,
beber ternura comprada,
onde os párias vão beber,
pois nesse meio viver,
o índio sem parador,
nunca encontra o bebedor
da sanga do bem querer.

Foi num Domingo de tarde,
ao retornar de uma andança,
a noite caía mansa
e o paisano vinha sério,
o pensamento gaudério
perdido longe... distante,
sem saber que, logo adiante,
ia enfrentar o mistério.

Quando embicava no passo
que faz fundo na invernada,
já na boca da picada,
o baio parou-se um gato,
bufou com espalhafato,
como prevendo tragédia,
o índio bancou na rédea,
já meio dentro do mato.

Ouviu um - morre bandido
dos covardes, de emboscada,
já na primeira trovoada
planchou-se o baio cabano.
Baleado embora, o Hermano,
ao se apartar do lombilho
vinha puxando gatilho
dum trinta e oito orelhano.

Seis tiros dados no rumo
e um alarido de morte.
Depois, a sangueira forte
e um frio que vinha do miolo
mas o índio era crioulo,
teve um sorriso esquisito:
- não ia morrer solito,
pra o taura, é sempre um consolo.

E ajoelhado, atrás do baio,
parceiro de mil jornadas,
já de pupilas vidradas
pela morte repentina,
passou-lhe a mão pela crina,
como quem nana criança
e um arrepio de vingança
escureceu-lhe a retina.

Com três ou quatro balaços
bordando a pele morena,
nem ouvia a cantinela
e o fogonear dos balaços,
meio de arrasto - c'os braços,
rumbeou para o tiroteio:
- galo fino - no careio,
coloreando de puaços...

Era um gaúcho Oriental
e um Oriental não recua,
honra a tradição charrua
e nem a morte o abala,
no próprio sangue resvala
mas segue no mesmo tranco,
agora, de ferro-branco,
porque jã não tem mais bala.

Sente que a vista falta
e uma bárbara dormência,
mas resta-lhe uma incumbência
nessa noite de Domingo,
se entrevera e - no respingo,
mete a adaga em carne humana,
gritando em voz insana:
- esta les doy por mi pingo!

Com vinte e tantos balaços,
escoriações e facadas,
as roupas esburacadas,
já cego - e peleando aos gritos,
como a confirmar os gritos
dalgum Confúncio campeiro:
- Covarde morre ligeiro,
o taura, morre aos pouquitos.

Três mortos - mais o Hermano
e o baio - morto encilhado,
não foi identificado
nem um só daquele trio,
o restante, se sumiu,
na imensidade campeira,
deixando apenas sangueira
e o choro do vento frio.

Nunca se soube o motivo
daquela barbaridade,
nem a própria autoridade
nem gente da vizinhança.
Foi com certeza, vingança,
feita por gente mandada.
Restam na velha picada
quatro cruzes por lembrança.

Seus nomes nunca se soube,
três cruzes sem inscrição
defronte - noutro munchão,
uma cruz tem nome: Hermano.
Descansa nela o paisano
que usava melena preta,
um poncho azul de baeta,
montava um baio cabano.
E lá está a cruz de pau ferro
palanqueando o castelhano,
último adeus do Hermano,
na tarde triste e cinzenta,
ao ver a cruz - representa
que a gente vê - na lonjura,
seu olhar, misto ternura,
com lampejos de tormenta.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Jogo bonito, jogo de Angola

JOGO BONITO, JOGO DE ANGOLA
(18/05/1995)

Jogo bonito, jogo de Angola
Jogo certeiro, és tu Capoeira
Luta de valente
Mandinga de escravo
Ânsia de libertação
Com princípios de liberdade
Um Capoeira escorrega sem cair no chão.
No toque do gunga
O sentir do sofrimento
De ser espancado no tronco.
Jogo bonito, jogo de Angola
Capoeira se joga agora
Brinquedo perigoso,
Jogo de morte, de malandragem
Uma meia lua corta o ar
Sem chances do adversário esquivar
Um golpe certeiro
Um golpe da Capoeira
Jogo bonito, jogo de Angola

sábado, 2 de abril de 2011

Yosemite National Park - 2009

Localizado nas coordenadas 37° 45' N 119° 30' O e criado em 1 de outubro de 1890, o Yosemite National Park é um parque nacional norte-americano localizado nas montanhas da Serra Nevada, no estado da Califórnia, nos condados de Mariposa e Tuolumne.
O parque cobre uma área de 3 081 km², estando a sua altitude compreendida entre os 600 e os 4.000 metros. O parque de Yosemite recebe a visita de cerca de três milhões de visitantes por ano, grande parte somente para ver o vale de Yosemite, mas no parque existem muitas outras atrações, pois é reconhecido internacionalmente pelos seus espetaculares desfiladeiros de granito, cascatas, arroios claros, bosques de sequoias gigantes e grande biodiversidade, que lhe valeram a designação de Patrimônio Mundial em 1984.
Das sete mil espécies de plantas existentes na Califórnia, cerca de metade está na Serra Nevada, e mais de 20% das espécies concentra-se em Yosemite. O parque conta também com registros documentais da presença de mais de 160 plantas raras, com solos únicos e formações geológicas também elas raras, que caracterizam as áreas restritas que estas plantas ocupam.
Geologicamente o parque caracteriza-se pela presença de rocha granítica e algumas rochas mais antigas. Há aproximadamente dez milhões de anos, a Serra Nevada sofreu uma elevação, tendo-se depois inclinado, o que levou a que as suas encostas ocidentais ficassem com declives ligeiros e as orientais com declives mais acentuados. A elevação resultou num aumento da inclinação dos leitos dos riachos e dos rios, resultando na formação de desfiladeiros profundos e estreitos. Há um milhão de anos, verificou-se uma acumulação de neve e gelo, formando glaciares nos prados alpinos mais altos, descendo depois para os vales percorridos pelos rios. A espessura do gelo no vale de Yosemite pode ter chegado aos 1.200 metros durante o início do período glaciar. O movimento de descida das massas de gelo esculpiu o vale em forma de U que tantos visitantes atrai hoje em dia.
Em 2009, quando visitamos a Gabi e o PJ em Fremont, Califórnia, tiramos um final de semana e fomos para o parque onde as meninas ficaram acampadas em um camping na cidade de Mariposa e eu e o PJ fomos encarar o trekking até o topo do Half Dome (http://en.wikipedia.org/wiki/Half_Dome) e no dia seguinte fomos até as Sequóias gigantes, provavelmente uma das maiores e mais antigas árvores do mundo.
Somente agora juntei as fotos e fiz um pequeno vídeo destes dois dias que lá estivemos.




quinta-feira, 24 de março de 2011

Anos Notáveis

ANOS NOTÁVEIS
(11/09/1996)

Ser real
Só se ver
Se sentir
Se for verdadeiro

Anos que passam no esquecimento
Que fazem história
Anos que contam tempo
Que entram na memória.
Lembranças que não mudam
E o vento que vem
Espantando o mau tempo,
Que ilude
Trazendo esses notáveis anos
Anos notáveis,
Da nossa saúde.

Mas se o frio continua
O tempo não muda,
A história continua...
Todos partiram
Menos a árvore
Que ficou pra trás,
Plantada pelo vento na lembrança.

Destruição do Mundo Novo

DESTRUIÇÃO DO MUNDO NOVO
(07/08/1996)

Se real ou abstrato
Foi o sentido do choque
Que espanta o homem
Que o deixa longe.
Exclui do meio natural
Destrói, polui, devasta
Fala em preservar
Só fala, não age
Só sabe molestar.

Com o mundo acabado
A selva de concreto
Os animais de lata
Os rios de lama
A poluição das mentes.

Mentes, poder, destruição.
O homem não cuida,
Fica sem;
Se tudo acaba,
Acaba o homem também.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Um ano de saudades

Lis, minha pequenina filha que está ainda na barriga de sua mãe, hoje é dia 18 de março de 2011 e faz exatamente 1 ano que sua vovó faleceu.
Essa sua vovó que te embalaria e te mimaria muito, mas muito mesmo. Eu imagino o tanto que ela faria isso porque um dos grandes sonhos da vovó Sandra era ter uma netinha ou um netinho pra mimar. Ainda bem que você terá sua vovó Elsa que terá trabalho duplo de vó.
Seu pai tem saudades da sua vovó Sandra. Bastante. Era muito bom ligar ou receber ligações da sua vovó e ficar por bastante tempo conversando sobre diversas coisas. Muitas coisas eram faladas (o vovô, o titio, o papai e a mamãe, a Vida, o Pitoco, o Pepeu, a Dandara, os parentes de Veranópolis, de Lages e de Floripa e tanto mais) e sua vovó contava a mesma história várias vezes. E era tão bom... Papai sente tanta falta.
Cada vez que o papai e a mamãe iam pra Lages, na casa da vovó, tinham diversas guloseimas, comidas e coisaradas que a vovó comprava e fazia só pra esperar seus pais na casa dela. Era polenta e galinha com molho, sopa de capeleti, docinhos caramelados, macarrão e sempre tinha aquele churrasco no domingo, na parte de baixo da casa.
A cama arrumada com fotos de seus pais no criado mudo eram marca registrada. A preocupação dela para que todos estivessem bem era outra. Aquela gringa de Veranópolis que rodou esse Brasil junto com o vovô João e com seu pai e seu tio Leandro foi a melhor mãe que seu pai poderia ter tido.
Sinto tanta saudade da sua vó e minha mãe. Não só hoje, mas todos os dias.
Mamãe, oh , minha mãe se tu soubesse que tua imagem adornei com flores e essas flores foram minhas preces. Preces colhidas no jardim das dores, durante todas as vezes que a senhora passou por tantas dificuldades e necessidades.
Tenho claro na minha mente a última vez que vi sua vó em pé, na frente de casa, de camisola azul, ao lado do vovô e do tio Leandro abanando e dando tchau quando eu e sua mamãe estávamos indo embora de Lages e voltando pra Poços, sua terra natal. Acho que sua mãe nunca imaginou que aquele aceno era um adeus e nem eu.
Depois disso, sua vovó ficou muito doente, foi operada e eu pude passar meus últimos momentos com ela no quarto do hospital durante um final de semana e uma semana depois, num sábado, 13 de março de 2010, eu falei com ela por telefone quando ela estava indo de volta pra UTI e minhas últimas palavras pra sua vovó foram: ‘Eu te amo minha mãe!’. Depois disso, só escutei a voz de sua vovó em meus sonhos e lembranças...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Flamengo - 1981 e 1882


Maio 1982



11 de dezembro de 1981
 Dois dias depois o Flamengo seria Campeão Intercontinetal em Tóquio batendo o Liverpool da Inglaterra, por 3 x 0, com dois gols do 'Artilheiro das Grandes Decisões', Nunes e outro de Adílio.

Flying Hummers!

http://www.youtube.com/watch?v=DFlyGzuV2sg

Indicação do Guilherme Quandt (@guilhermequandt). Valeu Gui!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

1987

Que a verdade e justiça sempre prevaleçam!
Mengão Hexacampeão!

domingo, 2 de janeiro de 2011

Bonsais

Primeiro post de 2011 para falar do bonsais.
Aqui em Poços esteve e está chovendo desde o início do feriadão de final de ano. Ficamos em casa, vimos alguns filmes e decidi então dar um pequeno ajuste no layout das plantas que convivem conosco aqui na sacada.
Entre elas, uma macieira que plantei em 2004, laranjeira, jaboticabeiras e outras plantas.
Algumas delas já postei fotos aqui neste blog e é possível ir acompanhando o crescimento e evolução destas árvores.
Laranjeira
Macieira

Jaboticabeira
Alfazema e pimenta