sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Acampamento Farrapo (Jayme Caetano Braun)

Bandeira de 35, Divino pendão de guerra
Que guarda gritos de terra entre as dobras andarilhas
Pano de altar das coxilhas, desfraldado por condores
prece rezada em 3 cores em sobrehumanos rituais.
O verde, os campos gerais do Rio Grande despenteado,
o matambre amarelado numa alvorada de outubro
e o campo… vermelho rubro, num sol de tarde sangrado.
Troféu mil vezes sagrado, pátria encarnada em um pano,
pedaço de chão pampeano que a história guasca eterniza.
Foste a primeira divisa do Brasil republicano.
Bandeira tu ressuscitas, na glória de cada fiapo
O Acampamento Farrapo embaçado de fumaça.
É o formigueiro da Raça que está reunido em concílio
É o bugre que – de lombilho,vem levantando aos bocejos
São os mestiços andejos, mal encarados e sérios
São castelhanos gaudérios vaqueano de montoneras
Que bandearam as fronteiras por força de algum instinto
É o negro chucro, retinto, dos grilhões recém liberto
É o piá voluntário esperto, guri ainda – rosto liso
É o chiru velho preciso que pensa mais do que fala
É o estancieiro de pala que chimarreia sisudo
É o mulato façanhudo de adaga grande à cintura
É a impressionante figura do charrua de melenas
É o soldado de chilenas e uniforme desbotado
É o lenço bem colorado num pescoço de Oriental
É a Tricolor Oficial num tope republicano
É o carreteiro vaqueano que segue o rastro das tropas.
São abas largas e copas, vinchas, quepes e chapéus
Laços apêros, sovéus, num mar de pilchas gaúchas
Boleadeiras e garruchas, ponchos, palas multicores
Chiripás e tiradores, chocolateiras, cambonas
São guitarras e cordeonas chamuscads nos fandangos
Espadas, adagas, mangos e as lanças que os peleadores
manejavam com primores nas arrancadas sem conta
todas trazendo na ponta as flameantes Tricolores!
Que culto estranho – que pampeano rito
Vivem tais vultos que divergem tanto
É a liberdade que funfiu num grito
Todas as vozes do Rio Grande santo!

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