quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Moscou e Istambul - dia 11

Uvazhaemye passazhiry (prezados passageiros)! Essa é uma expressão que ouvimos muito no metrô de Moscou nessas menos de 48 horas que lá ficamos. Gostei muito de Moscou! Era o que eu esperava. Talvez mais do que eu esperava!
Durante a noite passada levantei várias vezes e abria a cortina para poder ter a vista da parte da cidade que conseguia ver da janela do quarto do hotel.


Depois do café de hoje de manhã, que tomamos sentindo a alegria de ver através da CNN o resgate dos mineiros chilenos, que estavam desde 5 de agosto, se não me engano, a quase 700 metros de profundidade pegamos o metrô rumo a estação Beloruskaya, que fica na mesma linha da estação Avtozavodskaya (a de frente do hotel que estávamos), na linha verde. Estava frio, bem frio! Desembarcarmos do metrô na estação Belorusskaya e entramos na escada rolante que leva ao nível do solo para irmos para a estação de trem com o mesmo nome, para pegarmos o aeroexpress, trem que leva ao aeroporto Sheremetyevo, aquele vento gelado soprando e as pessoas protegendo o pescoço e fechando mais ainda os casacos.
Quando na porta da estação vimos a neve que caía! Sinto que essa neve foi enviada pela minha mãe, do plano que ela está hoje, para coroar a nossa estada em Moscou! Esse presente foi demais e me senti realizado! Moscou, Praça Vermelha, Kremlim, São Basílio, nevando e com a Fer. Te agradeço muito por tudo mãe! Agora pude entender porque sonhei tanto contigo na noite passada! A senhora queria me dizer que eu veria neve em Moscou!

Em frente a estação Belorusskaya, nevando

Fachada da entrada da estação Belorusskaya

Aeroexpress (trem para Sheremetyevo)


Fomos para o embarque e na hora do controle de passaporte a oficial russa pegou primeiro o passaporte da Fer e começou a complicar! Claro que ela não falava inglês, ou não queria falar. Escreveu o número ’90’ em um papel e falava ‘russian visa’ e logo percebemos que ela estava viajando e querendo dizer que estávamos a mais de 90 dias na Rússia, e neste caso os brasileiros precisam de visto (por um acordo entre os governos da Rússia e do Brasil, à partir de junho de 2010, não é mais necessário visto entre os viajantes de ambos os países para permanência de menos de 90 dias, somente para casos aonde a permanência exceda essa quantidade). Ela fez aquela cara de mau, falou algo em russo pelo rádio e logo veio um oficial de mais de 1,90 m e outra oficial com ele. Ela mostrou o passaporte e o carimbo de entrada e os dois olhara para ela, mostraram e a data de entrada era 7 de outubro de 2010 e sairam dali. Ela ficou envergonhada! Terminou a conferência no passaporte da Fer e carimbou a saída, pegou o meu, conferiu e carimbou a saída e depois falou” ‘excuse me!’.
Novamente, Moscou foi muito legal mesmo com os pequenos acidentes de percalço que tornam a viagem mais emocionante e mais inesquecível. Pudemos comparar uma cidade de mais de 1.000 anos, que nasceu de várias vilas que se juntaram ao redor de uma fortaleza (kremlim) e formaram a capital da Rússia que hoje tem mais de 10 milhões de habitantes a uma cidade de pouco mais de 300 anos, criada por um czar no intuito de expulsar os suecos que daquela parte do país haviam se apossado e por sua vontade moveu a capital para aquele norte distante, deslocando o poder político da estratégica Moscou, prefiro mil vezes Moscou! As duas cidades passaram por privações, dificuldades, cercos de exércitos inimigos (franceses com Napoleão no início do século 19 e alemães com Hitler no século 20). Moscou, na invasão napoleônica na Rússia foi invadida e seu povo se retirou e incediou a cidade, deixando o exército francês à mercê do frio e fome em pleno inverno russo! Dos 500 mil soldados do exército francês, morreram mais de 400 mil! Na Segunda Guerra, o cerco de Moscou durou uns 6 meses, enquanto o de São Petersburgo, 900 dias. Mas, em minha opinião o povo moscovita é mais receptivo, mais evoluído e mais simpático. Claro, no jeito russo de ser. Mas comparações e rivalidades entre cidades sempre vão existir. É o caso de Moscou e São Petesburgo, Los Angeles e San Francisco, Londres e Paris, Rio de Janeiro e São Paulo, Poços e Andradas, Lages e São Joaquim, Luminárias e Ingaí entre tantas outras.

Embarcamos no vôo da Turkish Airlines e ele partiu às 13:40hs (hora de Moscou). Conseguimos vaga na saída de emergência para nossa alegria e maior conforto. A Turkish serviu um almoço muito bom, o melhor que já comi em companhias aéreas. Detalhe: talheres de metal! Vinho turco foi o que tomei. A Fer, suco de laranja.
Desembarcamos em Atatürk, em Istambul, Turquia às 15:45 hs, horário local (GMT +2), uma hora a menos que Moscou e 6 a mais que o Brasil. Sem problemas na entrada, carimbo de entrada no passaporte e estávamos em solo turco. Já havíamos agendado com o Hotel Bisantium um serviço de translado do aeroporto para o hotel.
A mulher que nos trouxe, entrou por algumas quebradas que pensamos que era ali mesmo que teríamos nossos rins retirados e vendidos no mercado negro, mas era apenas um atalho até Sultanahmet, que é a ‘cidade velha’ de Istambul e local onde ficam o complexo das principais mesquitas (Aya Sofia e Blue Mosque), o Museu Arqueológico, Mercado Egípcio e Turco e outras atrações.
No caminho para o hotel pudemos notar a linha de defesa da antiga Bizâncio e depois Constantinopla, com ruínas de muralhas com mais de 2 metros de espessura ao longo de acho que mais de 10 quilometros de comprimento de frente para o Mar de Mármara (dizem que antigamente essas muralhas tinham mais de 30 quilometros de comprimento).
Depois do check in no hotel fomos dar uma volta de reconhecimento nos arredores e vimos que as duas grandes mesquitas ficam a menos de 300 metros de nosso hotel, que por sinal é rodeado de pequenos e aconchegantes restaurantes.

Fer e Mesquita Azul e suas minaretas

Fer e a Santa Sofia
 Tomamos um suco de romã e estávamos os dois parados em frente a Mesquita Azul (Blue Mosque), admirando suas minaretas (torres) e sua arquitetura (essa mesquita foi construída entre 1609 e 1616 durante o reinado do Sultão Ahmed I e durante o período do Império Otomano que durou de 1453, quando Constantinopla foi tomada pelos Turcos Otomanos dando início à Idade Moderna, e 1923) quando um cidadão parou do nada e nos disse que se quiséssemos entrar na mesquita deveríamos nos apressar, pois logo ela seria fechada para as orações muçulmanas e somente muçulmanos poderiam entrar lá. A única coisa que deveríamos fazer seria tirar os sapatos para entrar. Dissemos que estávamos somente olhando e que iríamos lá em algum outro dia dos que estaríamos em Istambul.
Ele ficou ali conversando, muito simpático, falou da cultura da religião, dos horários de orações e que aqueles que acordam e fazem as orações das 6 da manhã são realmente abençoados por fazerem tal sacrifício, perguntei dos gatos que vi na rua e de um tipo de corvo que tem aqui nesta região (vi este bicho em Helsinki, São Petersburgo, Moscou e Istambul e ele não é um corvo completamente negro e sim com várias partes cinza em seu corpo e somente as asas negras) e ele disse que eram muito comuns aqui. Jea estávamos meio cabreiros com a solicitude e simpatia do camarada. Ele ainda falou que não deveríamos pegar táxi próximo às mesquitas pois ali os taxistas enrolam muito e extorquem os turistas e mostrou e nos apontou alguns pontos que deveríamos visitar. Disse que não era taxista e nem guia turístico. Falou do monte Ararat (local onde segundo a Bíblia a Arca de Noé parou após o dilúvio) que fica no leste do país e que é muito procurado por montanhistas de todo o mundo (5.137m) e comentou que pessoas do interior são mais receptivas e simpáticas que as de cidades grandes. Então, veio o papo principal do Ahmed. Esse era seu nome. Típico não? Começou a falar de tapetes e acabamos indo conhecer a loja de tapetes dele e de ser ‘brimos’.
Pegamos um cartão e dissemos que voltaríamos outro dia. O ‘brimo’ dele que lá estava já nos convidou pra sentar e tomar um chá, mas vazamos de lá antes que fosse tarde e saíssemos com um ou mais tapetes nas mãos. Isso sim que é vendedor!
Dali, voltamos rapidamente ao hotel para deixar uma água na geladeira e fomos jantar. Nessa rua que estamos, tem uns 200 restaurantes e não se pode levantar a cabeça e olhar para dentro de um que já se é cumprimentado e convidado a entrar.
Escolhemos um e fomos. A Fer comeu um delicioso Frango Aya Sofia (frango temperado com aneto, pistache, amêndoas, alho, batata com creme de queijo e arroz com amêndoas) e eu comi almôndegas, que por sinal estavam muito boas. Foi uma diversão ver o pessoal do restaurante convidando clientes para entrar. Eles param as pessoas que estão passando e pelo menos uma palavra em cada língua eles devem saber falar. Isso sim que é povo vendedor! Ainda, enquanto estávamos sentados, três gatos diferentes vieram xeretar perto de mim e um deles inclusive pulou no colo da Fer e passou para o meu colo pedindo carinho. Que folgados esses gatinhos de rua aqui! Lembrei da Carlota!
Explica-se a habilidade de vendedores deste povo que vive em uma cidade que nasceu em 600 a.C. e até meados de 1400 e poucos era o ponto de ligação entre as Índias e a Europa e um dos principais pontos de comércio do mundo! Isso só começou a mudar com a Conquista de Ceuta pelos portugueses em 1415 (dando origem ao ‘Ciclo Oriental dos Descobrimentos’) e com o Contorno do Cabo da Boa Esperança, pelo navegador português Bartolomeu Dias em 1488 que levou ao descobrimento do ‘Caminho das Índias’. Mas quando a arte de negociar se está no sangue e na cultura o que podemos fazer é olhar, aprender, absorver, aprender, compartilhar, aprender e viver!

6 comentários:

  1. E num é? São comerciantes por gerações, geneticamente melhorados :)
    Que legal que é aí, que bem localizado o hotel! Os garçons convidando pra entrar lembra muito o México, bem assim. Gostei do frango da Fer, é muito apimentado? Será que vai dar pé pra mim?
    Ai, tem amanhã o dia inteiro pra passear e ver tantos lugares diferentes, que delícia!!!!! Aproveitem, beijo. Durmam bem.

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  2. O famoso "mercado de turco" :D
    que legal, quanta diferenca num mundo desses! Que delicia a chegada, apesar do medo de ficarem sem os rins... haha.
    Aproveitem tudo, a mudanca de sabores, de cores e principalmente de sorrisos!!
    cuidem-se, beijos!!

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  3. Eu estou me divertindo muito - fora acompanhar os relatos e as curiosidades (acho que o Madá inventa todas estas referências históricas, é impossível alguém saber tudo isso...) e achei que chegar em Istanbul vai dar leveza e diversão à viagem.
    Porque a Russia foi forrrte em todos os sentidos.
    Agora vocês vão circular entre os mestres da hospitalidade do universo, com certeza!
    *Madá, era ela com a neve, pode acreditar.
    : )

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  4. Que narrativa mais ilustrada, variada, emocionante, divertida!
    Como não amar a parte de levantar à noite pra olhar ainda mais uma vez a cidade? :)
    E compartilhar a certeza da presença constante do imenso amor da Sandra por este filho que foi tão longe.

    Mas com certeza as temperaturas mais amenas de Istambul vão dar um novo tom a viagem. Os sorrisos vão ser mais fáceis de encontrar e a Fer vai ficar mais alegrinha longe do frio :)

    Suco de romã, que delicia!!

    Mas cuidem que os brimos são mesmo bons de negócio e voces voltam com meia duzia de tapetes :o)

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  5. Gabi, nada apimentada! saborosa.
    E eu não sei como vou fazer sem suco de romã no Brasil!

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  6. Afinal... Em outubro tem neve em Moscou? Tenho férias em 20 de Outubro, e pensei em ir pra lá, e como minha namorada nunca viu a neve, quero juntar as duas coisas!

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