sábado, 30 de outubro de 2010

Paris - dia 26

PARTE 1

Quinta-feira, 29 de outubro, cadeados nas malas e mochilas, descemos no final da manhã, ali pelas 11:30hs e deixamos nossa bagagem no 'guarda bagagem' do hotel e fomos tomar um café na esquina da Avenue Carnot com a Rue das Acacias. Café, suco de laranja, um croissant e manteiga (para Fer porque eu nao gosto de manteiga) e ali pelo meio dia estávamos caminhando por Paris para curtir nosso último dia na Cidade Luz.
Andamos as ruas por volta do Arco do Triunfo, Champs-Élysées e almoçamos um macarrão em uma das ruazinhas que se encontram perpendicularmente com a Champs-Élysées.
Eu não estava me sentindo muito bem por causa de um resfriado que me atormentava e tampava minhas narinas e irritava minha garganta. Ou lenço, cachecol ou pashmina me acompanharam nessa últimas 4 semanas protegendo meu pescoço do vento e frio que estavam nestes diferentes lugares que tive a possibiliade de andar.
Após passarmos no mercado para comprar umas mostardas e patês para levarmos para casa subimos a Avenue Champs-Élysées rumo ao Arco do Triunfo e atravessando por baixo da rua saímos então na Avenue de la Grande Armée e duas quadras abaixo dobramos à direita na Rue das Acacias chegando no Hotel Fertel Etoile.
Na pequena recepção do Hotel Fertel Etoile, agendado e programado nesta viagem para nós pela agência de viagens, coloquei as sacolas de compras em cima do sofá enquanto a Fer abria um porta que dava ao 'guarda bagagem' ou maleiro do hotel e escutei ela dizer:
- Di, a tua mochila não está aqui!
Deu aquele frio na espinha seguido por um calor no peito e a secura na garganta.
- Mas deixamos a mochila aí! Fechada com cadedo. Veja, está aqui a chave!
E ela respondeu:
- Eu sei, mas a mochila The North Face não está aqui!
- E o que mais está faltando?
- Nada, as outras 5 malas estão aqui.
Perguntamos para a funcionária da recepção do Hotel Fertel Etoile o que havia acontecido e ela disse que ninguém havia passado ali. Paramos então para pensar no que havia dentro da mochila.
Primeiro, os passaportes! Não constumamos andar com passaportes na rua para evitar roubo ou perda de passaportes, andamos sempre com cópias e se caso seja necessário voltamos ou nos dirigimos aos hotéis e pegamos esses documentos. Minha carteira com dois cartões de crédito do Banco do Brasil, o cartão do Itaú e minha carteira de motorista, cartões da UNIMED e plano odontológico e uns 40 reais. O MacBook Apple da Fer com as mais de 3.300 fotos que tiramos durante toda a viagem, a câmera filmadora digital JVC com mais de 4 horas de filmes da viagem, a câmera fotográfica profissional CANNON que havíamos emprestado do Tio Cacá, meu celular blackberry, todos os cabos das máquinas e computadores, meu IPOD Apple, camisetas minha e da Fer que havíamos reservado na mochila para trocar à noite no aeroporto, nossos produtos de asseio pessoal para que usássemos antes do embarque (esses dois últimos consideramos de grande importância devido ao bem estar necessário em um vôo de 11 horas e mais o tempo de viagem de carro até em casa e por outros motivos que não vêm ao caso agora), o guia 'Europe in a shoestring' da Lonelly Planet, o livro do Waldemar Niclevicz que eu estava lendo, os seguros de saúde impressos que havíamos feito para esta viagem e outras coisas que agora nem me lembro sem falar é claro na mochila The North Face modelo 'patrol 35'. Tudo roubado por negligência do hotel que não possui o controle e nem a decência de perguntar à uma pessoa que entra e anda pelo pequeno hotel e sai de lá com um mochila (isso que quando o hóspede sai do hotel deve deixar a chave na recepção e pegar quando retorna - como que alguém pode entrar e circular pelo hotel sem pedir a chave do quarto?).
Imediatamente a Fer pegou o celular dela e já ligamos para o Banco do Brasil para que  minha gerente pudesse cancelar os dois cartões que ali estavam e para a TIM para bloquear o chip de meu telefone.
E a emoção que tivemos em todos os outros lugares que passamos durante esta viagem e ainda não havíamos passado em Paris estava para começar. Menos de 8 horas para o embarque e os passaportes roubados! E agora? Como poderíamos retornar para o Brasil?
O passaporte brasileiro é um dos passaportes mais desejados no mercado negro. Qualquer um pode ser brasileiro. De origem caucasiana, mulato, indiano, árabe, judeu, negro, índio, oriental e tantos mais. Nosso país devido à sua imigração conolizatória e escravagista conseguiu juntar de tudo um pouco e assim não seguir a padronização existente que predomina em tantos outros lugares.
Ligamos dali mesmo para o Consulado Brasileiro em Paris para saber o que deveríamos fazer e fomos informados que precisaríamos ir até o consulado com fotos 3x4 para que fosse feita uma autorização provisória para viagens internacionais. A estação de metrô em frente ao Consulado Brasileiro foi nos dita pela funcionária e então decidimos ir para lá. Nisso o pessoal do hotel decidiu começar a tentar ajudar e chamou um táxi para nós e pagou a corrida até o consulado.
Desembarcamos do táxi em frente ao consulado e descemos para a estação do metrô para tirarmos as fotos em uma daquelas máquinas automáticas ao custo de 5 euros cada. Mas aí inicia um novo problema. Só tínhamos notas de 20 euros e a máquina só aceitava notas de 5 euros ou exatamente 5 euros em moedas. Enquanto a Fer ficou na máquina eu comecei a correria para trocar a nota. Ninguém nos arredores trocava aquela nota pra mim. Fui no guichê de atendimento do metrô, em uma banca de revistas fora da estação e até que fui reto em um restaurante e pedi, e eles me deram 5 moedas de 2 euros e uma nota de 10 euros em troca da de 20.
Para as primeiras fotos colocamos 3 moedas de 2 euros e a máquina não devolveu o troco. Mas OK, as fotos da Fer estavam garantidas e agora precisávamos tirar as minhas. E o tempo passava voando! Juntamos todas as moedas que tínhamos e cheguamos na quantia de 4,95 euros. A máquina não faria o desconto de 5 centavos para tirar as minhas fotos. Não deu outra. Vi um casal de jovens comprando tickets de metrô e fui pedir dinheiro pra eles. Depois de uma viagem de quase um mês ter que pedir esmolas para resolver um problema, em um país estrangeiro é muito constrangedor. Mas não havia outra saída, não tínhamos tempo para tentar inventar mais nada. Era ali e daquela forma que eu poderia solucionar. Engolir o orgulho e ser humilde é preciso.
Eles me deram 10 centavos de euro, completei o dinheiro necessário e tirei minhas fotos. Em seguida, subimos correndo a escada do metrô e fomos para o Consulado Brasileiro.
A receptividade e atendimento da funcionária do Consulado Brasileiro em Paris foi digno de no mínimo um grande elogio. O nome dela era Beatriz e no momento que ligamos ela disse que estava indo embora mas que iria nos esperar para ajudar a resolver a situação. Em uns 40 minutos estávamos com as autorizações em nossas mãos. É muito bom poder contar com pessoas de bem em uma repartição pública em momentos de urgência e de crise como aqueles que estávamos vivendo. Ainda, ela nos explicou onde era a delegacia de polícia que era o nosso próximo destino para registrar a ocorrência do acontecido.
Saímos dali com grande pressa para chegarmos logo na delegacia de polícia pois não havia mais tempo. Precisávamos ainda tomar um ônibus para o aeroporto. Esse ônibus levaria mais de 1 hora com o trânsito de final do dia em Paris para chegar no destino final, que é o aeroporto Charles de Gaulle.
Na delegacia que fomos, que fica a menos de 500 metros do Consulado Brasileiro, ao entrarmos, havia uma pessoa esperando e já fomos ao balcão e falamos o porquê estávamos ali. O policial de plantão foi bastante educado e anotou nosso caso em livro e pediu que aguardássemos a nossa vez para registrar a ocorrência.
Sentamos e aguardamos por mais de 40 minutos a nossa vez pois outras pessoas estavam sendo atendidas. A agonia da espera foi muito grande e aqueles 40 minutos pareciam várias horas. Como é complicado esperar quando se está com um problema grave. Documentos roubados fora do país, equipamentos roubados e um total de mais de US$ 5.000 de prejuízo de dentro de um que hotel fomos colocados pela agência de viagens. Quando comecei a negociação com a agência para agendar esta viagem (que diga-se de passagem o roteiro foi bem proposto pela agência) lembro-me muito bem que pedi hotéis seguros, com camas e banheiros limpos. Quem acompanha os relatos aqui pode ver que não foi o que tivemos em São Petersburgo e agora em Paris com o caso deste roubo.
Neste meio tempo diversos policiais e soldados do exército saiam e entravam do posto policial. Todos eles, mas todos mesmo muito cordiais e simpáticos. Cumprimentavam-se entre si e também as pessoas que ali estavam. Fardas e ternos bem cortados e limpos. Armas limpas e com travas de segurança. Ninguém fumando ou largado pra trás nas cadeiras ou com os pés em cima das mesas como vemos em alguns lugares por aí.
Chegou a nossa vez já eram quase 6:30 da tarde. Passamos então para a sala de depoimento e começamos a contar  nosso caso para o policial que iria registrar a ocorrência. Ele ouvia atentamente e anotava o acontecido. Pegou nome e telefone do hotel, nossos nomes, o que havia dentro da mochila (que estava com um cadeado no zíper para reforçar a segurança do 'safe place' do hotel). Durante o depoimento ele parou e disse que começaria novamente a escrever pois o caso era sério demais e precisaríamos de um bom relatório para tentarmos reaver algo ou para minimizar os danos morais que estávamos sofrendo ali naquele momento.
Acabamos na delegacia pouco antes das 7 da noite e fomos para o metrô para voltar para o hotel e pegarmos nossa bagagem. Da estação de metrô Champs Élysées Clemenceau fomos na linha 1 até a estação Argentine e fomos para o hotel.

PARTE 2

Eu havia pedido para a gerência do hotel para olharem as fitas de vídeo e também verificarem nos quartos do hotel se nenhum hóspede estava com a mochila dentro de seu quarto. Pois se ninguém havia saído do hotel com aquela mochila de cor laranja ela tinha que estar ali dentro.
A primeira coisa que a gerente nos disse foi que haviam verificado nos quartos e não estava em nenhum de todos os quartos verificados. Disse também que olharam os vídeos da recepção e viram eu e a Fer carregando nossas malas e a mochila para dentro do guarda volumes (maleiro) do hotel e saindo para a rua mas não viram ninguém saindo de lá. Aí, pedimos para ver o depósito dos funcionários do hotel. A Fer foi lá com a gerente do hotel mas os armários estavam trancados e então não foi possível verificar se estava lá a dita mochila com tudo que já citei ou não. Nesse meio tempo, subi as escadas do hotel procurando de andar por andar se a mochila não estaria largada em algum canto ou então dentro de uma lata de lixo, carro de transporte de roupas de cama ou outro esconderijo qualquer. Nada! Absolutamente nada!
Discutimos bastante com as pessoas do hotel. É incompreensível que algo suma de dentro de um hotel deste jeito. Estávamos naquele momento moralmente, emocionalmente e fisicamente destruídos. Sem falar financeiramente é claro.
Todos os registros da viagem de nossas vidas, fruto de um prêmio recebido pelo meu esforço e sucesso profissional dentro de uma empresa como a Danone, tudo perdido. Mais de US$ 5.000 de prejuízo em equipamentos. Quão seguro é este hotel em que fomos colocados? Fico ainda perguntando o que poderia ter acontecido mais nesse ou em outro dos hotéis que fomos colocados neste roteiro. Essa reflexão não saía de minha cabeça. E até agora agradeço à Deus, minha mãe e o seu Ely que nos protegeram espiritualmente nesse tempo e nessa viagem.
Nos arrumávamos para ir pegar o ônibus para ir ao aeroporto e o hotel se ofereceu para pagar o táxi para nos levar até lá. Era o mínimo que deveriam fazer naquela hora. Aceitamos e desembarcamos no aeroporto Charles de Gaulle, Terminal F2 por volta das 8h30m da noite.
Já fomos direto despachar nossas bagagens e pensamos em ir no 'lost and found' do aeroporto mas fomos avisados por um policial que não estaria funcionando naquele horário. Passamos o controle de passaportes com aquele documento que recebemos na embaixada e ainda fomos tomar um lanche antes de irmos para o portão de embarque.

2 comentários:

  1. É meu amigo, nem sempre primeiro mundo quer dizer mais segurança. Mas o que importa mais é a integridade física de vocês, pois bens materiais podem ser comprados novamente.

    É claro que os dados no computador e máquinas nunca mais serão recuperados, mas a memória de vocês sempre guardará as belezas vistas e visitadas.

    Mande notícas sempre e um grande abraço.

    Obs: vejam o episódio do roubo como uma oportunidade de renovar os gadgets por modelos novos :)

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  2. Muito estresssantes estas últimas horas da viagem, realmente uma pena!

    Confesso que fiquei com receio de uma coisa assim por todo o tempo em que vocês estavam viajando e passando por lugares tão "mais estrangeiros". Considerando a tranquilidade dos ultimos dias em Paris, realmente não esperava que isso acontecesse logo lá...

    Mas no meio de toda a situação negativa, fico feliz de saber que foram bem atendidos por funcionários da embaixada brasileira e da policia francesa, isto faz toda diferença numa hora dessas!

    E devemos dar graças pelo prejuizo ser só financeiro (que o hotel tem a obrigação de assumir) e por vocês estarem bem, mesmo que abatidos pelo que aconteceu.

    Sorte que vocês colocaram muitas fotos no flickr e no blog e compartilharam tantas impressões com a gente. As boas experiências e a memória de tudo que viveram de bom e de não tão bom nesta viagem nunca serão perdidas, mesmo que não tenham mais fotos e filmes para rever.

    Beijos!

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